Guiomar Piçarra
Referência bibliográfica
Tribunal do Santo Ofício (TSO). Processo inquisitorial. Salvador, Brasil, 1592. Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) - Inquisição de Lisboa, PT/TT/TSO-IL/028/01275.Disponível em: http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2301163.
Nomeação no documento
Guiomar Piçarra, mulher de Manoel Lopes, pescador
Descrição do documento
Nomeada em processo inquisitorial, acusada de sodomia e de comer carne em dias defesos. Com 12 ou 13 anos, relacionou-se com Mécia, que tinha cerca de 18 anos. Afirmou terem chegado "ambas a tão desonesta amizade que" relacionaram-se sexualmente duas ou três vezes (em dias diferentes). Foi processada também por ter comido carne de um tatu do mato em um sábado com outras três mulheres, "todas vizinhas e amigas", "sem terem necessidade de comer carne" (com exceção de uma que estava "parida e sangrada" e outra que estava "prenha secretamente").
Idade
38
Naturalidade
Moura, Portugal
Morada
Itaparica, Brasil
Termos de caracterização social usados no documento
cristã-velha
Estado civil
Casada
Local do documento
Salvador, Brasil
Ano do documento
1592
Transcrição parcial
Confissão de Guiomar Piçarra, cristã no tempo da graça do recôncavo\nAos seis dias do mês de fevereiro de mil quinhentos e noventa e dois anos, nesta cidade do Salvador, Bahia de Todos os Santos, nas casas da morada do senhor visitador do Santo Ofício Heitor Furtado de Mendonça, perante ele apareceu sem ser chamada, dentro no tempo da graça, Guiomar Piçarra. E por querer confessar sua culpa recebeu juramento dos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão direita, sob cargo do qual prometeu dizer verdade. E disse ser cristã-velha, natural de Moura, em Portugal, filha de Belchior Piçarra e de sua mulher, Maria Rodrigues, já defuntos, casada com Manoel Lopes, lavrador, de idade de trinta e oito anos, moradora em Itaparica. E, confessando-se, disse que, sendo moça de doze ou treze anos, estando moradora no Rio Vermelho, em casa de Antônio Rodrigues Belmeche, estava ali das portas adentro também uma negra de Guiné, ladina, por nome Mécia Alcorcovada, que então seria de idade de dezoito anos. E chegaram ambas a tão desonesta amizade que, duas ou três vezes, em diferentes dias, se ajuntaram ambas em pé uma com a outra, com as fraldas afastadas, abraçando-se e combinando e ajuntando suas naturas e vasos dianteiros um com outro. E assim se deleitavam, como homem com mulher, porém não se alembra nem se afirma se ela confessante cumpriu alguma das ditas vezes, como costuma cumprir a mulher com o homem, nem sabe se a dita Mécia cumpriu. Confessou mais, que haveria cinco ou seis meses, que um dia, à merenda, estando ela em casa de Gaspar Nunes, lavrador, juntamente com Maria Pinheira, mulher de João d’Aguiar, e Maria Nunes, mulher de Gonçalo Gonçalves, lavrador e pescador, e Ana Alveloa, mulher do dito Gaspar Nunes, todas amigas, moradoras e vizinhas em Itaparica, sendo sábado, a dita Ana d’Alveloa mandou vir à merenda um tatu, que é caça do mato, de carne cozido, e todas elas quatro comeram a dita carne no dito sábado, à merenda. Sabendo ser sábado e ela confessante sentia-se mal disposta e disse às outras que aquele dia era sábado, que não se podia comer carne e que ela, por doente, a comeria e, contudo, todas quatro a comeram sem ter necessidade nem desculpa. E das ditas culpas disse que pede perdão e que está muito arrependida e que já as confessou a seus confessores. E foi logo perguntada pelo senhor visitador se sabia ela que o dito ajuntamento carnal entre mulheres é sodomia e que comer carne nos dias proibidos é culpa heretical. Respondeu que não sabia que eram senão pecados mortais, de grande ofensa de Deus, e, sendo mais perguntada, disse que a dita Ana d’Alveloa é mameluca e que a dita Mécia é ora casada com um negro, alfaiate dos padres do colégio, e ela também é alfaiata, moradora nesta cidade. E do costume disse nada, mas é amiga de todas e prometeu ter segredo, e foi-lhe mandado tornar a esta mesa no mês de maio. E, por não saber assinar, eu, notário, a seu rogo assinei com o senhor visitador.
Autoria da transcrição
Natalia Zacchi. Beatriz de Freitas Cardenete; Elisa Hardt Leitão Motta; Maria Clara Ramos Morales Crespo; Mariana Lourenço Sturzeneker; Vanessa Martins do Monte
Condição de acesso ao documento primário
Documento acessível, digitalizado e editado filologicamente de forma parcial
Descrição material do documento
Descrição feita a partir de documento digitalizado. O processo apresenta 32 fólios escritos em papel, dos quais 6 estão em branco. No recto de todos os fólios, no canto superior direito, há inscrições em grafite cinza indicando o número de cada fólio. No recto do primeiro fólio há o número do processo no arquivo escrito em grafite cinza: "Nº 1275”. Nos fólios 1r, 2r, 3r, 4r, 5v, 6r, 7r, 10r, 11r, 12r, 13r, e 14r há um carimbo em tinta preta, de formato oval, com os dizeres "Torre do tombo: Arquivos Nacionais %" e, em seu centro, uma figura que se assemelha a um escriba sentado à sua mesa de cópia. No verso do 1º fólio há uma marca d’água em que se vê uma cruz inscrita no interior de uma forma ovalada, que se assemelha a uma gota invertida.
Tipo de documento
Processo inquisitorial
Autoria do documento
Tribunal do Santo Ofício (TSO)
Datação cronológica
06/02/1592 a 19/12/1592
Arquivo
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT)
Indexador na fonte
Inquisição de Lisboa, PT/TT/TSO-IL/028/01275
URL da fonte
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2301163
Trecho de menção na bibliografia
Foi o caso de Guiomar Pisçara, mulher de 38 anos, esposa de lavrador que, quando tinha cerca de 13 anos, deleitava-se com Méscia, “negra ladina da Guiné”, escrava domestica da família.
Fonte da menção na bibliografia
Vainfas, Ronaldo. Homoerotismo feminino e o Santo Ofício. In: Priore, Mary Del, organizadora. História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Editora da Unesp; 2004. p. 126.
Referência no DMB
Guimar Pisçara, 253
Número de documentos
1
Perfil documental
Nomeada em documento primário
Detalhamento do perfil
Nomeada em processo inquisitorial acusada de sodomia e de comer carne em um dia proibido
Rede documental
[0057]
Chave de pesquisa
sodomia
Grafia conservadora do nome
guiomar Pissarra; gujmar pissarra; gujmar pisçarra; gujmar piscarra
Forma conservadora dos locais mencionados no documento
saluador bahia de todos os sanctos
Catalogado por
Mariana Lourenço Sturzeneker. Natalia Zacchi
Código
[0035]
[...] a dita Mécia é ora casada com um negro, alfaiate dos padres do colégio, e ela também é alfaiata, moradora nesta cidade.
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