Conjunto documental 1.1.624/95-2-37
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"MGS_01" (author: Desconhecido, Desconhecido) [ extensão: full, 1133 palavras ]

Informe o capitão-mor, ouvindo o suplicado, e lembrando-lhe, Ilustríssimo e excelentíssimo senhor,
que eu não costumo perdoar as vexações quando
são provadas na minha presença, para que esta lembrança
Athibaia
sirva de freio às que quiser fazer, e de lhas embaraçar
fica incumbido o mesmo capitão-mor. São Paulo, 27 de
janeiro de 1821.
[*]

Diz Maria Gertrudes de Siqueira,
moradora na paragem denominada Mato Dentro, distrito
da vila de São João Batista de Atibaia,
a qual tem um filho
de nome João, como o mais velho é quem com seu trabalho sustenta
a suplicante, sua mãe, e suas irmãs, e como sucede presentemente
constar à suplicante quererem prender ao seu dito filho que
vive honesto e morigeradamente, tratando de sua mãe, e o mais
como dito está consta à suplicante que esta prisão é maquinada pelo
ajudante Daniel da Rocha [Franco], que não procura outra
coisa mais que perseguir aos pobres como já tem feito em diferentes
tempos sair desta mesma dita vila, Marcelino do Prado,
João de Sequeira Cardozo, Bernardino Domingues, João Manoel, Maria
Cardoza, estes referidos, para fugirem aos danos que lhes ameaçava
a desumanidade do suplicado, venderam suas moradias e terrenos
por metade de seus valores, transportaram-se a outros distritos
onde bem pudessem escapar deste não bom homem, que como
seja rico e descendente dos majores da dita vila espera sempre a
impunidade da tirania que derrama sobre os povos bem que sobre estes
fatos o suplicado já fosse corrigido, e castigado mesmo por Vossa Excelência, contudo,
ele pretende perturbar a miserável, que não pode fazer o que fizeram
os acima referidos por lhe faltar os meios proporcionais para o dito
fim, por isso,

Pede a Vossa Excelência se digne a mandar
que o capitão mandante examine a verdade
do exposto, e sendo verdadeiro o que tem a
suplicante expendido, não perseguir-se ao filho
da suplicante
Espera Receber Mercê


Ilustríssimo senhor capitão-mor,

Obedecendo o respeitável despacho do excelentíssimo senhor, passo a responder que
é falso todo o tratado no requerimento da suplicante: o filho é tão mau que vive o soluto, com
a mal criação da mãe, rondando a minha casa com cópula com as minhas escravas,
comendo por mãos delas, tudo oculto de mim, que muito me tem vexado, e assim que
soube de tudo castiguei as mesmas escravas, e pus proibição de que elas não tivessem
mais correlação com o dito malfeitor e vadio, e nem com sua mãe
e mais família, e também mandei lhe dizer a dita mãe que proibisse o dito filho que me
fazia o dito insulto, e que nem ela, e nem gente sua botasse[m] em minha casa
mais os pés, e assim mesmo a dita mãe, consentidora de seu filho, em minha ausência
trouxe-me o dito filho na minha casa, que até chegaram-me a pousarem-me
lá com semelhantes maldade. Já depois de eu os ter proibidos e eu
para me ver livre de semelhantes vexames queixei-me para o capitão do distrito
e para Vossa Senhoria que dessem as providências nessesárias que eu me transportava
para esta vila p.a que não chegasse à via de fato de o acolhê-lo, e daqui
não voltava sem Vossa Senhoria dar os devidos comprimento da queixa conforme
as ordens do mesmo excelentíssimo senhor, e mostra-se o dito defeito no mesmo João,
por razão de que, veio corrido para este lugar por rondador de
casas, que até chegou a desflorar a mesma prima irmã, e viver metido
com ela, causando desesperação ao pai, e parentes, e até dizem que o dito
filho da suplicante tem tido cópula com a irmã própria e aí Vossa Senhoria pode
ver se o dito é casto e honesto como diz a suplicante, que assim tem vivido, que
de tudo Vossa Senhoria pode informar-se do capitão do distrito, e do alferes de milícia
Antonio João Callos Barboza, e se for preciso de mais algumas
pessoas, que na ocasião lhe direi que nenhuns destes tem parentesco comigo,
do que fez o filho da suplicante quando vizinhavam com eles a notícia que
tinha o dito filho da suplicante. E respeito dizer a suplicante que é trabalhador,
ignoro, porque não tem tempo para isso por viver gauderiando
com semelhantes ofícios, tanto assim que ainda não fez casa


casa para a mãe, há mais de ano que existe com a mãe,
solteiro e desempedido, e nem tem terras [de seu], e para fazer uma
rocinha fez mutirão pedindo gente de casa em casa.
Em respeito à
suplicante macular-me falsamente ao mesmo excelentíssimo senhor em causas alheias
e indiferente da sua queixa com Marcelino, e outros ditos, muito
ignoro na suplicante, porém com tudo passo a contar a Vossa Senhoria: o dito Marcelino
correu-se por si mesmo por desobedecer a ordem de seu capitão
em não querer fazer o caminho do sacramento e juntamente por uma vez
que brigou com Joaquim Pirez e por outra vez que foi esperar o mesmo Joaquim
Pires com um primo com duas armas de fogo para o matarem
em vingança da [primeira] intriga, e por isso é que foi [arguido] a mudança
dele para Vossa Senhoria não o tornar a prendê-lo porque na barruada o escapou
de ser preso.
E respeito a Maria Cardoza, e outros, todos
moravam em um sítio por serem filhos e genro da dita Maria
Cardoza e se mudaram-se foi por não caberem, como sendo
preciso posso mostrar, e por arrumação que fizemos amigavelmente por
termo que se acha neste cartório fiquemos em paz e arrumados.
Em quanto a suplicante dizer que os ditos venderam o sítio por a metade de seu
valor, nego, porque foi avaliado por duzentos mil réis por este juízo
do órfãos, e foi vendido por quatrocentos e cinquenta mil réis,
ainda queimado dos grandes fogos.
É o que posso responder a Vossa Senhoria, a quem
Deus guarde por muitos anos.
Atibaia, 2 de fevereiro de 1821.

De Vossa Senhoria,
reverente súdito,
Daniel da Rocha Franco


Ilustríssimo senhor capitão-mor,

Em observância da respeitável ordem
de Vossa Senhoria
sou a informar que Lourenço de Siqueira
queixou-se-me que o filho de sua irmã, Maria
Gertrudes de Siqueira, lhe tinha feito uns desaforos
em sua casa, sem explicar a natureza
deles, mandando eu chamar a dita
Maria Gertrudes de Siqueira, e perguntando-lhe
eu qual era a causa da queixa de seu irmão
Lorenço de Siqueira, me disse que seu filho estava
pronto para se casar com a sua prima irmã
com quem vivia concubinado, e que outro
irmão, Ignacio de Siqueira, impugnava. Logo despois
disto mudou-se esta mulher com o filho a pé da
casa do ajudante Daniel, e logo queixou-se-me
o dito ajudante que o dito João lhe andava rondando
a sua casa, e que as suas escravas nem água
podiam ir buscar no rio, e que por este vexame
ele ajudante se passou para esta vila,
eu logo com estas queixas mandei dar uma
barruada, e não se topou e a ordem sempre em
sobre o Marcellino do Prado, estando eu
na fatura do aterrado, e tinha-o mandado notificar
para a dita fatura, e seguirem o caminho do
sacramento, me desobedeceu, dei ordem que o prendessem,
mudou-se para outra parte.
É o que posso informar
a Vossa Senhoria.
Deus guarde a Vossa Senhoria. [Atibaia], 6 de fevereiro
de 1821.
De Vossa Senhoria, súdito obediente,

Francisco Xavier Cezar