Catarina Quaresma
Tribunal do Santo Ofício (TSO). Processo inquisitorial. Salvador, Brasil, 1593. Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) - PT/TT/TSO-IL/028/01289. Disponível em: https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=2301177.
Nomeação no documento
Catarina Quaresma, que ora está nesta cidade, casada com Pedro de Aires, castelhano, e se chama Dona Catarina Quaresma
Descrição do documento
Nomeada em processo inquisitorial, acusada de sodomia por ter se relacionado sexualmente com uma mulher (cerca de seis a oito anos antes do processo) e ter feito "o mesmo com outras meninas" anteriormente. Não chegou a confessar o "crime", afirmando que não se recordava se "ajuntaram seus vasos naturais", "nem se tiveram a deleitação".
Idade
25
Naturalidade
Lisboa, Portugal
Morada
Salvador, Brasil
Termos de caracterização social usados no documento
dona; meia cristã-velha
Estado civil
Casada
Local do documento
Salvador, Brasil
Ano do documento
1593
Transcrição parcial
E por ela foi dito que ela lhe não lembra culpa que tenha pertencente a esta mesa. Perguntada se viu o primeiro ato solene público que se fez na sé, respondeu que sim. Perguntada se viu nele algum caso em que se sinta culpada, respondeu que não, mas que somente lhe lembra que, ouvindo no dito ato o caso de uma mulher culpada no pecado de sodomia com outras mulheres, ela tratou com seu confessor um caso que lhe acontecera a esse propósito, e ele lhe disse que não tinha necessidade de vir a esta mesa, o qual é o seguinte: que haveria sete ou oito anos, pouco mais ou menos, que em Itaparica, sendo sua hóspede Ana d’Alveloa, da qual ela foi depois comadre, a dita Ana d’Alveloa se veio a lançar com ela na sua rede, sendo ela ré solteira, para dormirem ambas aquela noite. E estando assim ambas, a dita Ana d’Alveloa se abraçou com ela e a apalpou pelas pernas e, abraçada, a apertou muito consigo, e assim a teve um espaço de tempo. E não se lembra ora afirmadamente se se puseram ambas uma em cima da outra, nem lhe lembra se ajuntaram seus vasos naturais, nem se lembra se tiveram a deleitação como de homem com mulher, nem se obraram o pecado de sodomia. Porém lembra-lhe que ela, ré, não teve tenção de fazer o tal pecado, nem ter a tal deleitação torpe, nem intendeu, nem pretendeu fazê-la tal torpeza, nem consenti-la, mas antes ela se enfadou muito de a dita Ana d’Alveloa assim se vir meter com ela na sua rede e abraçar e ter abraçada contra sua vontade, mas porquanto na mesma casa dormiam também, em outras redes, as filhas de Manoel Nunes, lavrador de Itaparica, ela, ré, por não serem sentidas, se calou e deixou a dita Ana d’Alveloa tê-la assim abraçada, e que bem poderia ser que a dita Ana d’Alveloa se poria então em cima dela e debaixo e ajuntariam seus vasos naturais. Porém, que como ela ré não tinha o intento a fazer isso, não lhe lembra ora se o fez pela dita maneira, mas que de tudo o que ela fez, que por esquecimento não declara, ela o há por confessado nesta mesa, porque se lhe lembrara o confessara claramente. E por dizer que mais lhe não lembra, foi logo perguntada pelo senhor visitador se tinha candeia acesa: respondeu que lhe parece que se apagou a candeia. Perguntada quantas vezes fez ela este pecado nefando nos Ilhéus com outras moças, respondeu que não lhe lembra que tal fizesse com nenhuma moça nos Ilhéus, nem em outra parte, e que se ela por ventura fez isso, seria menina de tão pouca idade que por isso ora lhe não lembra nada. Perguntada como se chamam as moças com quem ela fez o dito pecado nos Ilhéus, respondeu que nunca o fez com nenhuma. Perguntada quantas vezes se puseram uma em cima da outra ela e Ana d’Alveloa, como homem com mulher, respondeu que se lembra que a dita Ana d’Alveloa se pôs em cima dela, barriga com barriga, porém não se afirma se ajuntaram seus vasos, e que também poderia ser pôr-se ela de cima da dita Ana d’Alveloa, por se querer defender dela, porém que ela se não alembra ora disso.
Autoria da transcrição
Natalia Zacchi. Beatriz de Freitas Cardenete; Elisa Hardt Leitão Motta; Maria Clara Ramos Morales Crespo; Mariana Lourenço Sturzeneker; Vanessa Martins do Monte
Condição de acesso ao documento primário
Documento acessível, digitalizado e editado filologicamente de forma parcial
Descrição material do documento
Descrição feita a partir de documento digitalizado. O documento possui 15 fólios, dos quais 12 estão escritos, em sua maioria, no recto e no verso. No recto do primeiro fólio há uma inscrição feita, posteriormente, a grafite, que corresponde ao número do processo: “Nº 1289". No recto de todos os fólios, no canto superior direito, há inscrições indicando o número do respectivo fólio. Nos fólios 1r, 5r, 11r e 15r há um carimbo de formato oval em tinta preta com os dizeres "Torre do tombo: Arquivos Nacionais %" e, em seu centro, uma figura que se assemelha a um escriba sentado a sua mesa de cópia.
Tipo de documento
Processo inquisitorial
Autoria do documento
Tribunal do Santo Ofício (TSO)
Datação cronológica
26/10/1592 a 18/08/1593
Arquivo
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT)
Indexador na fonte
Inquisição de Lisboa, PT/TT/TSO-IL/028/01289
URL da fonte
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2301177
Trecho de menção na bibliografia
Assim ocorreu com dona Catarina Quaresma, filha de um rico fazendeiro da Bahia, casada com poderoso senhor de engenho na época da Visitação: no tempo de solteira, aos 19 anos, mantinha relações frequentes com moças de sua idade ou mais jovens.
Fonte da menção na bibliografia
Vainfas, Ronaldo. Homoerotismo feminino e o Santo Ofício. In: Priore, Mary Del, organizadora. História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Editora da Unesp; 2004. p. 126.
Número de documentos
1
Perfil documental
Nomeada em documento primário
Detalhamento do perfil
Nomeada em processo inquisitorial acusada de sodomia feminina
Chave de pesquisa
sodomia
Grafia conservadora do nome
Cna quaresma; Catarina quaresma; Catherjna quarresma; catherjna quarresma
Forma conservadora dos locais mencionados no documento
saluador; taparjca; Lixboa
Catalogado por
Mariana Lourenço Sturzeneker. Natalia Zacchi; Beatriz de Freitas Cardenete; Elisa Hardt Leitão Motta; Maria Clara Ramos Morales Crespo; Vanessa Martins do Monte
Código
[0019]
Padronizar a forma de tratamento “senhor visitador” e a tipologia documental “processo inquisitorial” com minúsculas | Catalogar Ana d’Alveloa
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