Excelentíssimo Senhor Recebeu a minha atenção o mimoso donativo de letras de Vossa Excelência, ficando com elas tão desvanecida a minha humildade, quanto satisfeito o meu desejo, por ter a casteza de que esta serva fica no rol dos criados e cativos de Vossa Excelência e, achando-me já hoje com este brazão, que podereis mais desejar? Senão chegar a dizer que aliancei o meu desejo. Ainda que posta a minha desconfiança na balança da razão, não deixava de vaticinar o sensível corte da censura e a retribuição daquele arrojo. Mas, como sempre, se seguem os ditames da vontade como impulsiva, ou as operações do apetite, fui confiada tanto quanto agora me vejo, ainda que por tão doce modo corrigida. Não posso mais do que somente significar a Vossa Excelência que o arrojo da minha ousadia era indicativo e demostrativo sinal de um afeto de cativa, e que, frustrada a empresa em que reconciliaria os maiores timbres em desejo, fico nas águas Icárias, com abatimento, não passando mais a expressar-se o meu sentimento, porque o sumo respeito de Vossa Excelência me não dá lugar, que já que mereci, por fortuna, aquele dez[ilegível]r. Não quero perder agora o brazão de serva adquirido, conformando-me em tudo com as disposições de Vossa Excelência, a quem a minha veneração saberá sempre satisfazer nos empregos de servi-lo, aplaudindo o logro da saúde, em que ao presente se achar, porque na verdade lhe sabe desejar esta sua serva, em tudo perfeita e cabal. Guarde Deus a Vossa Excelência muitos anos. Olinda, e de novembro 8 de 1737. Serva e cativa humilde de Vossa Excelência, Dona Violante Clara de Miranda Henriques |