Excelentíssimo Senhor
Não me tem faltado a vontade de que, reverente, me pervolva aos pés de Vossa Excelência e, suposto que este era o emplaço daquela vontade potência, quase que não podia vencer a do entendimento, por se oporem dois extremos, ambos iguais e grandes ambos. Além de me considerar entre os precipícios de Cila e Caríbdis que, a querer evitar este, não fugiria daquele.
Ofereciam-me o extremo, seguido da vontade, de me mandar oferecer por serva e cativa de Vossa Excelência. Objetavam-me outro, deste meu arrojo ser infalivelmente censurado e, vendo-me nestes termos, me expus a seguir a vontade, pondo de parte a censura certa deste atrevimento, por cuja causa de alguma forma me suaviza a fixa certeza de que serei desculpada pela atenção de Vossa Excelência, a quem ofereço o préstimo do meu nada, além de solicitar o estado de saúde com que Vossa Excelência aportou neste país, o que agora, ainda que tarde, peço à Vossa Excelência me comunique para com a certeza de que a logra de todo perfeita, se me avivarem as esperanças de ter empregos no que for do agrado de Vossa Excelência, a cujos mandados fico subordinada como tanto serva e cativa de Vossa Excelência. Que guarde Deus muitos anos. Olinda, 20 de outubro de 1737.
Serva e cativa reverente de Vossa Excelência, eu
Dona Violante Clara de Miranda Henriques |