Normas de Edição
Para a criação destas edições virtuais, interessou-nos dar conta de uma das preocupações centrais da filologia, que é a de editar um texto que seja o mais fidedigno possível em relação ao que o autor escreveu. Toledo Neto (2020, p. 194) evidencia a importância de que, na edição filológica, o texto original seja recuperável a partir de normas e metodologias explícitas:
[...] o retorno [ao texto original] existirá enquanto as normas explicitadas na edição permitirem ao leitor saber quais foram todas as modificações feitas pelo editor. Se souber o que foi modificado, um leitor poderá, se assim o quiser, retornar ao estado anterior do modelo transcrito. A possibilidade do retorno assegura a fiabilidade da transcrição e, consequentemente, a da edição.
Como será mostrado adiante, a ideia de retorno ao original é plenamente alcançada com o tipo de edição virtual que foi desenvolvido a partir dos manuscritos do corpus e com o auxílio da ferramenta eDictor, que permite a criação em XML de uma edição em que se sobreponham as versões diplomática, semidiplomática e modernizada das cartas. Com a finalidade de explicar o que estamos chamado de “edição filológica virtual”, também recorreremos a Monte e Paixão de Sousa (2017, p. 241), que defendem que o texto digital é uma "[...] simulação computacional de texto, destituída de realidade física, e plena de artifícios lógicos.” Por isso, a edição filológica virtual passa a ser “[...] a apresentação ‘fisicamente inexistente’ e ‘criada por programas de computação para parecer real aos sentidos’ de um documento fisicamente existente no espaço e no tempo”. Como objeto propriamente digital, essa edição é composta por três componentes básicos:
[...] a representação digital do texto original sob forma de imagem; a ‘textualização’ ou passagem da informação visual para informação efetivamente codificada como texto (incluíndo-se a ‘transcrição’ do texto e a anotação de informações adicionais sobre o texto); e a apresentação do texto como objeto novamente legível como informação visual (de fato, num processo de desmaterialização e rematerialização do texto, de informação visual para informação computacional, e de volta para informação visual). Monte e Paixão de Sousa (2017, p. 265)
No trabalho desenvolvido neste corpus, os três componentes básicos que compõem o texto virtual ficam bastante evidentes quando analisamos o processo de edição em si. A primeira etapa da edição filológica virtual das missivas foi digitalização, a partir da qual temos como resultado um objeto inédito que, embora não substitua o original, acaba por contribuir com a preservação do manuscrito, uma vez que não é mais necessário manusear os documentos físicos para trabalhar com os processos seguintes de edição.
Tendo as cartas digitalizadas, passa-se para a transcrição. Nessa fase, o manuscrito que estava em forma de imagem é codificado como texto, tal qual utilizado, por exemplo, no sistema ASCII. Tendo o texto transcrito, parte-se para a edição propriamente dita, a partir de critérios pré-definidos. Para a criação das edições filológicas digitais se fez inicialmente uma edição diplomática das missivas, a partir das seguintes normas adaptadas de Toledo Neto (2020):
Já para a criação da edição modernizada, teve-se em mente o trabalho de Motta e Monte (2019), que prevê um conjunto de regras para modernização de documentos, com o intuito de que eles alcancem um público não especializado, e os critérios para uniformização gráfica de antropônimos propostos por Monte (2013). Abaixo, seguem as normas utilizadas:
Para a criação das edição no eDictor, foram elaboradas etiquetas de edição de palavras, baseadas tanto nos Fundamentos, Diretrizes e Procedimentos do Corpus Tycho Brahe como em outras necessidades suscitadas pelo próprio corpus. Foram usadas ao todo 14 etiquetas de edição, sendo elas: junção (jun) e ressegmentação (seg), para atualizar as fronteiras de palavras; sobrescrito (sob) para marcar palavras ou letras grafadas entre as linhas do texto ou sobrepostas nas abreviaturas; sublinhado (sub), para destacar palavras que foram grifadas no original como, por exemplo, no caso do ano 1794; ilegível (ile), rasgado (rasg), papirófago (pap), refilado (ref), borrado (bor) e rasurado (ras), para indicar dificuldades de leitura relacionadas ao suporte; conjectura (con), para marcar trechos em que foi feita uma leitura duvidosa; expansão (exp), para fazer a abertura de abreviaturas; grafemática (gra), para padronizar acentuação e sinais gráficos; e, por fim, a modernização (mod), para atualizar a grafia das palavras de acordo com a norma atual, acrescentar ou retirar pontuações e alterar outras questões do texto que poderiam dificultar sua leitura e não foram resolvidas com as etiquetas anteriores.
Além disso, desenvolveram-se as anotações diplomáticas dos manuscritos, considerando sobretudo o fato deles serem da tipologia textual carta. Para isso, foram criadas nove etiquetas de anotação: direção; saudações iniciais; valedictio; despedida cordial; fecho complementar; datações tópica e cronológica; assinatura; post-scriptum; e sobrescrito.
A descrição detalhada do processo de edição dos manuscritos, bem como da utilização das etiquetas diplomáticas, está publicada em Cardenete (2023). O arquivo CFG, de preferências de edição para o eDictor, está disponível aqui para ser baixado.
Por fim, reiteramos que está autorizada a reprodução total ou parcial do conteúdo e das edições deste corpus, desde que citada a fonte.
[...] o retorno [ao texto original] existirá enquanto as normas explicitadas na edição permitirem ao leitor saber quais foram todas as modificações feitas pelo editor. Se souber o que foi modificado, um leitor poderá, se assim o quiser, retornar ao estado anterior do modelo transcrito. A possibilidade do retorno assegura a fiabilidade da transcrição e, consequentemente, a da edição.
Como será mostrado adiante, a ideia de retorno ao original é plenamente alcançada com o tipo de edição virtual que foi desenvolvido a partir dos manuscritos do corpus e com o auxílio da ferramenta eDictor, que permite a criação em XML de uma edição em que se sobreponham as versões diplomática, semidiplomática e modernizada das cartas. Com a finalidade de explicar o que estamos chamado de “edição filológica virtual”, também recorreremos a Monte e Paixão de Sousa (2017, p. 241), que defendem que o texto digital é uma "[...] simulação computacional de texto, destituída de realidade física, e plena de artifícios lógicos.” Por isso, a edição filológica virtual passa a ser “[...] a apresentação ‘fisicamente inexistente’ e ‘criada por programas de computação para parecer real aos sentidos’ de um documento fisicamente existente no espaço e no tempo”. Como objeto propriamente digital, essa edição é composta por três componentes básicos:
[...] a representação digital do texto original sob forma de imagem; a ‘textualização’ ou passagem da informação visual para informação efetivamente codificada como texto (incluíndo-se a ‘transcrição’ do texto e a anotação de informações adicionais sobre o texto); e a apresentação do texto como objeto novamente legível como informação visual (de fato, num processo de desmaterialização e rematerialização do texto, de informação visual para informação computacional, e de volta para informação visual). Monte e Paixão de Sousa (2017, p. 265)
No trabalho desenvolvido neste corpus, os três componentes básicos que compõem o texto virtual ficam bastante evidentes quando analisamos o processo de edição em si. A primeira etapa da edição filológica virtual das missivas foi digitalização, a partir da qual temos como resultado um objeto inédito que, embora não substitua o original, acaba por contribuir com a preservação do manuscrito, uma vez que não é mais necessário manusear os documentos físicos para trabalhar com os processos seguintes de edição.
Tendo as cartas digitalizadas, passa-se para a transcrição. Nessa fase, o manuscrito que estava em forma de imagem é codificado como texto, tal qual utilizado, por exemplo, no sistema ASCII. Tendo o texto transcrito, parte-se para a edição propriamente dita, a partir de critérios pré-definidos. Para a criação das edições filológicas digitais se fez inicialmente uma edição diplomática das missivas, a partir das seguintes normas adaptadas de Toledo Neto (2020):
- A edição será justalinear;
- Letras ilegíveis ou parcialmente visíveis por fragmentação do suporte material serão indicadas por um ponto entre colchetes, como em [.];
- Letras ilegíveis por dificuldade de decifração da escrita serão indicadas por asterisco entre colchetes, como em [*];
- Letras ou palavras reconstituídas por conjectura serão colocadas entre colchetes como, por exemplo, em “p[ar]te”, “p[rin]cipe” e “[ca]za”;
- Se contemporâneas ao modelo, letras ou palavras acrescentadas na entrelinha ou na margem serão colocadas entre <> e transcritas na linha a que correspondam, como em
e ; - Letras ou palavras repetidas no modelo, sem cancelamento, serão colocadas entre barras verticais, como no caso de “|A Senhora|” e “|Com o que hé|”;
- As abreviaturas não serão expandidas, sendo mantido, por exemplo, “Ilustríssimo” como “Illmo.” e “Francisco” como “Franco.”;
- O emprego de maiúsculas, minúsculas e pontuação original serão rigorosamente mantidos;
- Os alógrafos contextuais de caracteres serão uniformizados segundo o alfabeto atual, por exemplo: “canʃsada” será transcrito como “canssada” e “filƐo” como “filho”;
- Os sinais de pontuação e acentuação não serão uniformizados de acordo com a sua função na palavra e seguirão o mais fielmente possível a sua posição no modelo, como em “Irmaó” e “razaó”;
- As fronteiras de palavras seguirão fielmente o modelo, como em “arogarlhe” e “ao Caziaó”.
Já para a criação da edição modernizada, teve-se em mente o trabalho de Motta e Monte (2019), que prevê um conjunto de regras para modernização de documentos, com o intuito de que eles alcancem um público não especializado, e os critérios para uniformização gráfica de antropônimos propostos por Monte (2013). Abaixo, seguem as normas utilizadas:
- Todas as abreviaturas serão desenvolvidas e seguirão a grafia atual;
- Paragrafação, grafia, pontuação e acentuação do modelo são adaptadas conforme o uso atual para uma melhor compreensão;
- As fronteiras entre palavras são modernizadas conforme o modelo de separação vocabular atual;
- A transcrição será justalinear;
- Erros evidentes no modelo serão corrigidos;
- O hífen é usado entre pronome e verbo. Ex.: Declara-se. Serão inseridas letras em casos que pareçam necessárias para uma melhor compreensão do texto, como em “lheide” por “lhe hei de”;
- Todas as alterações necessárias para uma melhor leitura são feitas, incluindo a adaptação de preposições, artigos, pronomes, acentuação, pontuação, etc.;
- A estrutura do gênero textual do documento é preservada;
- Os títulos e formas de tratamento serão grafados com a primeira letra de cada palavra em caixa alta, como em: “Vossa Mercê”, “Vossa Senhoria”, “Dom”, “Ilustríssimo Senhor”, “Senhoras Donas”. Para cargos ou outros substantivos usados para se referir a pessoas presentes no discurso, como “primo”, “amigo”, “capitão-mor” e “prior”, opta-se pela modernização com letras minúsculas;
- Para o topônimos e antropônimos, serão seguidas as grafias mais frequentes atualmente. Dessa forma, permite-se substituição de “e” por “i’ em ditongos; “i” e “u”, quando com valor de consoante, serão modernizados para “j” e “v”, respectivamente; o “y” será substituído por “i”; “s” e “z” seguirão o uso atual, com exceção da escrita em fins de palavra, como em “Soares” e “Ferraz”; o “g” e o “h” em nomes como “Theresa”, “Bartholomeu” e “Ignácio” foram retirados; nomes terminados em “x”, como “Rodriguex”, serão substituídos por “s”; e também serão feitas outras alterações que pareçam necessárias, como o inclusão de acentos em nomes como “Vicencia” > “Vicência” e “Florencio” > “Florêncio”.
Para a criação das edição no eDictor, foram elaboradas etiquetas de edição de palavras, baseadas tanto nos Fundamentos, Diretrizes e Procedimentos do Corpus Tycho Brahe como em outras necessidades suscitadas pelo próprio corpus. Foram usadas ao todo 14 etiquetas de edição, sendo elas: junção (jun) e ressegmentação (seg), para atualizar as fronteiras de palavras; sobrescrito (sob) para marcar palavras ou letras grafadas entre as linhas do texto ou sobrepostas nas abreviaturas; sublinhado (sub), para destacar palavras que foram grifadas no original como, por exemplo, no caso do ano 1794; ilegível (ile), rasgado (rasg), papirófago (pap), refilado (ref), borrado (bor) e rasurado (ras), para indicar dificuldades de leitura relacionadas ao suporte; conjectura (con), para marcar trechos em que foi feita uma leitura duvidosa; expansão (exp), para fazer a abertura de abreviaturas; grafemática (gra), para padronizar acentuação e sinais gráficos; e, por fim, a modernização (mod), para atualizar a grafia das palavras de acordo com a norma atual, acrescentar ou retirar pontuações e alterar outras questões do texto que poderiam dificultar sua leitura e não foram resolvidas com as etiquetas anteriores.
Além disso, desenvolveram-se as anotações diplomáticas dos manuscritos, considerando sobretudo o fato deles serem da tipologia textual carta. Para isso, foram criadas nove etiquetas de anotação: direção; saudações iniciais; valedictio; despedida cordial; fecho complementar; datações tópica e cronológica; assinatura; post-scriptum; e sobrescrito.
A descrição detalhada do processo de edição dos manuscritos, bem como da utilização das etiquetas diplomáticas, está publicada em Cardenete (2023). O arquivo CFG, de preferências de edição para o eDictor, está disponível aqui para ser baixado.
Por fim, reiteramos que está autorizada a reprodução total ou parcial do conteúdo e das edições deste corpus, desde que citada a fonte.