Ana Vicência Rodrigues de Almeida | AVRA_01
Edição modernizada


"AVRA_01" (author: Ana Vicência Rodrigues de Almeida, Desconhecido) [ extensão: full, 935 palavras ]

Antônio

São Paulo, 9 de janeiro de 1815.

Filho muito amado do meu coração. No fosso de minhas amarguras pelas tristes
notícias que me chegaram da perigosa enfermidade do nosso bom Francisco, a vossa
mesma carta de 18 de abril, e outra sem data, pôde dar-me a devida consolação.
Em verdade, crescida com as subsequentes de 22 de maio e última de 22 de junho
do passado, que delas fazendo o apreço merecido, por desgraça minha, voltaram de Cuiabá,
e por isso muito retardadas, como constantemente tem sucedido às anteriores, que
sempre são bem-vindas, como vos segura a minha amizade para vos não poupares ao
exercício de escrever-me, no que certamente me dais um grande prazer.
E qual seria
então o que me coube ao recebimento de ditas cartas, que afiançam de um modo mais que
comum a vossa honra, nãopelo bem que vos postastes, como esperava, a favor
de Francisco, que ouço restabelecido, como nas apropriadas providências dos interesses
desta casa pelo falecimento de Joaquim da Silva.
E ainda mais nos louváveis
sentimentos, em que permaneceis a bem de minha cara filha, vossa mana, que de justiça
se faz digna da contemplação, em que atendes pelo muito que vos ama e me sabe merecer,
o que é bastante a aceitares os agradecimentos de uma mãe amiga, que tudo vos merece,
e saberá conservar em eterna lembrança o vosso louvável cuidado de a veres
desposada.
Em verdade, nada me será mais lisonjeiro do que ver isto realizado com
acerto que contais no P[ilegível]o Gabriel Henriques, vosso amigo, título este que o recomenda a
minha atenção e em muito pelas excelentes qualidades que o adornam, como me haveis segurado.
E então que dúvida posso eu ter em acompanhar-vos de muito bom grado e igual
estima nos vossos desejos, que em tudo merecem a minha aprovação, para ter a de
vossa mana, quando tínhamos a fortuna, que ansiosamente espero de ver-vos nesta casa
em companhia do Meretíssimo Senhor Pessoa, para que assim possam ambos dar o necessário e último
assentamento a nossos apurados desejos, que me conduzem com gosto à obrigação
de agradeceres com os meus devidos cumprimentos ao Meretíssimo Senhor a praticada
condescendência na vossa ajustada pretensão, cortada com saudades de
Francisco.
Conheço a rigorosa precisão da demora deste nessa, durante a vossa
ausência, para que seus negócios e os de vossa casa não pereçam, e reputando-os mais que
próprios, procurarei acomodar-me a este penar por meio da correspondência
que levo a este para que desempenhe quanto estiver de si e houveres de o incumbir.
Orientada do mui bem que providenciaste a falta daquele Joaquim da Silva de tanto
aceitai o meu louvor para ser maior, quando de tudo possais dar a vosso bom tio uma
boa e merecida correspondência até última liquidação, como recomendada
for pelo Meretíssimo que nesta ocasião vos não escreva por ausente no engenho, mas tanto
ele como eu estimaríamos a continuação de vossas diligências nas cobranças
do vencido para trazeres o que mais possível for.
Sabei que a vossa anunciada
remessa por Bento Mendes ainda me não foi entregue, e quando suceda passará
ao Tenente Antônio José da Silva e Costa, de quem haverei o competente título, como
me haveis recomendado por ditas cartas, e assim conhecida a pouca
exação daquele portador, que tanto pratica em desabono do comércio
mineiro.
Da cópia inclusa, com data de 3 do mês findo, vereis o que, ao padre


Bartolomeu, escreveu o Capitão Manoel Soares Ferraz, com a
quantia de 300$051 réis que diz ser de vossa conta, e remessa a mim
pela correspondência do Tenente Domingos Fernandez de Andrade, que de fato me foi entregue,
e dela dei recibo na cogitação do destino que a mesma deveria ter.
Entendi que servisse para pagamento do Brigadeiro Francisco Xavier dos Santos, que
se deu por satisfeito com a quantia de réis 246$800, resto de principal,
que satisfiz
em 2 do presente, entregando-me o vosso crédito passado no
primeiro de março de 1805 a esta, a quem podeis agradecer a equidade, que
de seu modo próprio fez dos juros, ficando dito crédito réis 53$251, que
restou do referido, remessa em meu poder à vossa disposição.

Fico igualmente entregue do presente, que me fizeste por vosso primo
Queiroz, que julgo em Cuiabá.

Nesta vossa casa não ocorre novidade, e menos nas
de nossa família e amizade, agradecidos de vossas lembranças se recomendam
saudosos, e em muito vossa mana, de quem deveis aceitar todo cortejo
na persuasão da estima, terá em ver-vos, e eu com particularidade
prezo para saciar tantas e tão constantes saudades vossas, a quem, Deus correspondendo
às minhas súplicas, queira dar a melhor saúde, acompanhada
de contínuas felicidades, vos sei desejar para gosto e consolação desta,
que é com desvanecimento

Vossa mãe saudosa,
e amiga amante,

No bergatim do sete, que tempos seguiu
para a Bahia, remeti os marmelos
secos, que pediste, estimando vos seja entregue.
E a presente vai dirigida a vosso correspondente
senhor Arouca, para vos ser presente com a
brevidade que muito desejo.

Dona Ana Vicência Rodrigues.