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DonaCna quareſma

Baja

1

10

No 1289

Proceſſo de dona Cna quaresma
lisboa


_

2

Aos ujnte eſeis djas do mes de ojtubro
de mil e qujnhentos enouenta edous
annos nesta cjdade dosaluador ca
pitanja da bahia de todos os ſanctos
nas casas damorada dosor ujsitador
dosto offjo.
hejtor furtado de mendoça
perante elle pareçeo ſendo chamada
Anna dalueloa aqual reçebeo Jura
mento dos ſanctos euaõgelhos em q
pos ſua maõ derejta ſob cargo do qual
prometeo djzer entudo uerdade efoj
logo amoestada pello sor ujsitador
com mujta charjdade que ella naõ tem
acabado de confeſsar todas [ - ] ſuas culpas
que portanto faça confiſsaõ Jntejra
de todas ellas edeclare auerdade
de tudo porque aſsim ſera despacha

da


com mia e respondeo que ella tem con
feſsadas todas ſuas culpas que
lhe lembram eque naõ lhe lembramais
que djzer.: E Diſse que ora nouamente
lhe lembra que auera ſeis ou ſeteannos
quefoj naquelle prjmejro anno
en que djo gllz lapso comſuamolhergujmar
lopez cristaã noua ecõ ſuafilha caterjna
quarresma queora estanestacjdade
casada com pedro de arjes caſtelhano
eſe chama dona caterjna quarresma
vieraõ dacapitanja dos Jlheos pera
taparjca ſendo ella Ree Ja casadaeten
do amjzade com adjtta gujomar lopez
e ſuafilha caterjna quarresmacristaas
nouas molher efilhado djtto djo.
gllz
lapso aconteçeo hum dja uesperade

ſam


ſamJoam quefoj ella Ree ujsitalas
a sua casa e [ f ] [ j ] cou laa com ellas aqlla
nojte et ella com a ditta caterjnaqua
resmaque entaõ eraſoltejraſedejta
raõ ambas em huã redecomo he cos
tume neste brasil pera dormjrem a
quella nojte ambas em camjſsa, elogo como
ſe dejtaraõ adjcta caterjnaquaresma co
meçou a abracalla e a pos aella Ree em
cjma desi eaJuntaraõ ambas ſeus ua
ſos naturais hum com o outro eaſsim
ſe estiueraõ delejtando com ſeus vaſos
Juntos ella Ree de cjma, e adjcta caterj
na, quarresma debajxo, espaço de
tempo come seforahomẽ com molher porẽ <20>
naõ auja entre ellas nenhum Jntrum[ ẽ ]
to outro, penetranteſenaõ ſomente
ſeus uaſos, edespois de ellaRee fazer
oſobre djtto ſe pos entaõ adjcta ca

terjna


terjna quarresma en cjma della Ree
ea[ J ] untando ſeu uaſso com o della es
tiueraõ tambem outro espaço de tempo
pequeno comoſefora homẽ cõ molher
pella ſobre djcta manejra ſem a uer outro
Jns trumento exterjor mais queſoos
ſeus uaſos hum com o outro como djtto
he, eque este peccado fez cõ adjtta ca
terjna quarresma como djtto tem
nadjtta nojte duas uezes ſendo ca
da huã dellas huã uez, Jn cuba eoutra
uez ſub cuba, e que djsto pede perdaõ
e mia eperguntada pello sor ujsita
dor ſe quando ella teue os djttos aJũ
tamentos torpes, ſe comprjo eteue
o comprjmẽto que costumaõ as molhe-
res [ t ] [ e ] [ r ] [ n ] o acto carnal cõ [ - ] homens
e ſe entendeo que o teue adjcta caterjna
quarresma, respondeo que naõ lhe lẽ

bra


4

bra ora iſso nẽ ſe afirma niſso, per
guntada ſe ſabja ella que este pecca
do era peccado nefando que chamaõ
contra natura respondeo que sabja
que era offensa de deos, elogo na
prjmejrauez que ſe cõfeſsou despois
djſso confeſsou este peccado a seu padre
espirjtual, eperguntada de que ydade
era adjtta caterjna quarresmaquãdo
foj este caſo djxe que era entaõ Jamo
lher da postura ecorpo de que agora
he equelhe dezia queſerja de ydade della
Ree eque ella Ree he ora de ujnte eſeis
annos pouco mais ou menos.
EDixe
mais que na djtta nojte lhe djxe adjtta
caterjna quarresmaquando faziam
os djttos actos eaJuntamentos torpes
e nefandos que tambem ella laa nos

Jlheos


Jlheos fazia o mesmo con outras menjnas
e perguntada mais djxe que nunca
mais cometera o ditto peccado com
aſobredjtta mais que adjtta nojte como
djtto tem eque njnguem as ujo ſegundo
lhe |lhe| pareçe Jnda que namesma casa
estauaõ em outras redes as filhas de
<40> Manoel nunez deſejta huã veuua e outra
ſoltra e naõ ſabe ſeas ſentiraõ, ou ſe dormja
eque nada mais lhe lembra epedjo des
pacho com mia, e do costume djxe que
he comadre dadjtta caterjna quarresma
aqual despois do ſobre djtto caſo acõte
çer leuou a pia huã menjna filhadella
Ree eſam amjgas efoj lhe ma[ õ ] dado
ter segredo pello Juramento que re
çebeo eperguntada mais djxe que
adjtta caterjna quarresma Ja então

era


5
era molher que ſe prezauade discuta
elia liuros e erade bom entendjmẽto
epor naõ ſaber aſignar eu notro aſeu
rogo aſignej cõ osor ujsitadorManoel
frco notro dosto offjo.
nesta ujsita[ ç ] aõ
o escreuj ~ Mendoça Manoelfrco ~

foj conçertada esta c[ * ] zaõ cõ apro
prja aqualfoj reteficada pella
cõfeſsante naforma do derejt[ o ]
no liuro das retiffiçaçois afolhas
cento evinte enoue, e por concor
darem de verbo aduerbum aſigna
mos aquj osor visitador e eu Ma
noelfrco notro dosto offjo.
nesta
ujsitaçaõ oescreuj ~

Mendoça ~ Manoelfrco


E Juntas as ditas culpas logo
affiz con clusas aõ ſor ujsitador
pera pernuncjar nellas como fo[ se ]
Justiça Manoelfrco notro dosto offjo
neſta ujsitaçaõ oescreuj ~
Co

ſeja Chamada Cna
quaresma qApareça
nesta Mesa.
Baja
a 6, deAgosto 1593.


6

[. ] ſeſsaõ

Aos ſeis dias domes de agosto demjl
equjnhentos enouenta e tres annos nesta
cjdade dosaluador bahia detodos os stos.
nas casas da morada dosor ujsitador
dosto offjo.
hejtorfurtado de mendoçaper
ante elle pareçeo ſendo chamadadona
catherjna quarresma e reçebeo Jura
mento dos ſanctos, euangelhos ſob cargo
do qual prometeo djzer uerdadeefoj
logo amoestada pello sor ujsitador
com mujta charjdadeque ella con
feſsetodas ſuas culpas, por que
ella esta dellata nestamesa e que
desencaregue ſua cõ cjencjaeque
nesta mesa peça mia, daqualſe
usara com ella fazendo ella cõfiſsaõ <60>
uerdadejra, epor ellafoj djtto que ella
lhe naõ lembra culpa quetenha pertẽ

cẽte


cẽte aestamesa, perguntada ſe ujo o prj
mejro acto ſolemne pubrjco queſefez
naſee, respondeo queſim, perguntada
ſeujo nelle algum caso emqueſe sinta
culpada respondeo q naõ, mas q
ſomente lhe lembra, que ouujndo no
djtto acto o caſso dehuãmolher culpa
da no peccado deſodomja cõ outras
molheres ella tratou cõ ſeu cõ ſeu cõ
feſsor hum caſo que lhe aconteçera aeſse
preposito et elle lhe djxe q naõ tinha
neçeſsidade deujr aestamesa, o qual
he hosegujnte, que auera ſete, ou ojto
annos pouco mais, ou menos, q emta
parjca ſendo ſua os peda Anna
dalueloa da qual ellafoj despois
comadre, adjtta Anna dalueloa
ſe ueo alancar com ella na ſua rede

ſendo


ſendo ella Ree ſoltejra pera dormjrem
ambas aquella nojte et estando aſsim
ambas adjtta Annadalueloa se abraçou
com ella e aapalpou pellas pernas, ebra
cada a apertou mujto com sigo, eaſsim
ateue hum espaço detempo, e naõ ſelem
bra ora affirmadamenteſe sepuſeraõ
ambas huã em cjmada outra nẽ lhe
lembra ſe aJuntaraõ ſeus uasos natu
rais nẽ ſelembra ſe tiueraõ adelejta
çaõ como de homẽ com molher, nem ſe
obraraõ o peccado deſodomja porem
lembralhe que ella Ree naõ teue tençaõ
de fazer otal peccado, nẽ ter atal de
lejtaçaõ torpe, [ n ] em, entendeo, nem
pretendeo fazella tal torpeza nẽ con
ſentilla, mas antes ella ſe enfadou
mujto de a djttaAnna dalueloa

aſsim


aſsim ſe ujr meter com ella na ſua rede
et abraçar eter abraçada contra ſua uõ
tade, mas porquanto, na mesma casa
dormjam tambem em outras redes
as fjlhas de manoel nunez laurador
detaparjca, ella Ree por naõ ſerem
sentidas ſe calou, edejxou adjttaAnna
dalueloa tella aſsim abraçada, e que
bempoderja ſer que a djttaAnna dalue
lloa ſe po[ * ] ia entaõ en cjma della, e
debajxo e aJũtarjam ſeus uaſos na
<80> turais porem que como ella Ree naõ
tinha oJntento, afazer iſso naõ lhe lẽ
bra ora se o ffez pella djtta manejra
mas que de tudo o q ellafez, que por es
quecjmento naõ declara ella ho ha por
confeſsado nesta mesa porqueſe lhe
lembrara o confeſsara craramente,

epor


8

epor djzer que mais lhe naõ lembra foj
logo perguntada pello sor ujsitador
ſe tinha candea açesa, respondeo que
lhe pareçe que se apagou acandea ~
perguntada quantas vezes, fez ella
este peccado nefando nos Jlheos cõ
outras moças, respondeo, que naõ
lhe lembra que talfizeſse com nenhuã
moça nos Jlheos nem em outra parte
e que ſe ella por uentura afez iſso ſerja me
mjna de tampouca ydade que por
iſso ora lhe naõ lembra nada, per
guntada como ſe chamaõ as moças
con que ellafez o djtto peccado nos
Jlheos, respondeo que nunca o fez cõ
nenhuã, perguntada quantos uezes
ſe puſeraõ huã em cjma da outra ella
e Anna dalueloa como homẽ cõ mo

lher


lher respondeo queſe lembra que adjtta
Anna dalueloa ſe pos em cjma della
barrjgua cõ barrjga porem naõ ſe
afirma se aJuntaraõ ſeus uaſos eq
tambem poderja ſer, por ſe ella de
cjma da djttaAnna daluelloa por
ſe querer defender della porem que
ella ſe naõ a lembra oradjſso, efoj
logo tornada amoestar quefalle
auerdade, e por djzer que a tem djtta
aſignou cõ osor ujsjtador aquj ~
Manoelfrco notro dosto offjo.
nestauj
ſitaçaõ o escreuj ~

Mendoça ~ dona catarina quarresma


9

2ª ſeſsaõ

Aos ſete djas do mes de agosto de mjl
equjnhẽtos e nouenta e tres annos
nesta cjdade dosaluador nas ca
ſas da morada dosor ujsitador do
sancto offjo.
hejtorfurtado de mẽdoça
perante elle pareçeo ſendo chama
da dona catherjna quarresmaaqual
reçebeo Juramento dos ſanctos e
uangelhos em que posſua maõ de
rejta ſob cargo do qual prometeo dj
zer uerdade efoj logo tornada amo
estar com mujta charjdadeque ella
uſe de bom conſelho efaça confiſsaõ <100>
Jntejra euerdadejra, epor djzer
que <naõ> lhe lembra mais do que djtto tem
foj logo perguntada que como djz
ella que naõ lhe lembra que fizeſse

o djtto


o djtto peccado nosJlheos pois ella
foj ouujda estar djzendo adjttaAn
na dalueloa nadjtta nojte q tam
bem ellafazia o mesmo cõ outras moças
nos Jlheos, respondeo que naõ lhe lembra
que tal djxeſse, foj lhe logo djtto pello
sor ujsitador, que bem ſe entende que
ella calla ora nesta mesa auer dade
pois ella djz que quando adittaAnna
dalueloa, abraçauaeſe punha em cjma
della contra sua uontade, ellanaõ
tinha tençaõ no djtto peccado, eo cõ
trajro, ſeuee de estas pallauras q
ella djxe que tambem ellafazia o mes
mo nos Jlheos com outras, respondeo
que ao preſente lhe naõ lembraque
talfizeſse nẽ djxeſse perguntada

quem


10
quem lhe Jnſinou e a enduzio que negaſse
nesta mesa a uerdade, respondeo
que njmguem e que os reljgioſsos cõ
que tem fallado ſobre esta materja lhe
djxeraõ quefallaſse ella toda auer
dade nesta mesa a qual ella temdj
to de tudo o que lhelembra, efoj torna
da amoestar que reforme bem ſua
memorja eaſignou cõ osor ujsita
dor aquj Manoelfrco notro dosto offjo.
nesta ujsitaçaõ o escreuj ~

Mendoça ~ dona caterina quare[ s ] ma

[ ] ſeſsaõ

Aos ſete djas do mes de agosto de mjl
equjnhentos enouenta etres annos
nesta cjdade doſaluador bahia

detodos


de todos os ſanctos nas casas da mora
da dosor ujsitador dosanto offjcjo
hejtor furtado demendoça per
amte elle pareçeo ſendo chamada
dona cat[ h ] erjna quarresma aqual
reçebeo Juramẽto dos sanctos euan
gelhos em que pos ſua maõ drerejta
ſob cargo do qual prometeo djzer
uerdade, eſendo amoestada dj[ x ] e
que lhe naõ lembra mais do que tem
djtto, e perguntada por ſu agene
losia, djxe ſer mea cristaã uelha na
tural de lixboa filha de djo.
gllz lapso cris
taõ uelho e de ſua molher gujomar lo
<120> pez cristaã noua de ydade de ujnte
e cjnquo annos pouco mais ou me-
nos, casada com pedro arjes de a
gjrre ſeus auos da parte deſua

maj


11

maj ſam guaspar lopez defunto et bre
atiz lopez Jnda ujua, dos [ D ] a parte de
ſeu paj naõ ſabe ſeus nomes, ſeu paj
teue hum Jrmaõ chamado frco gllz
defunto, e outras Jrmaas das quais
huã dellas tinha nome caterjnaſua
maj tem Jrmaos luis lopez, e gco roiz
casados lauradores defuntos, eſer
naõ lopez q esta no cabo uerde naõ
ſabe [ ſ ] e he aJndaujuo et Marjalopez
casada q foj cõ hum gco djaz daſilua
em lixboa, eljanor mendez casada
com gaspar gomez nestacjda de
e outra casada en castellaaque
naõ ſabe o nome Jadefunta ella
Ree teue dous <Jrmaos> defuntos ſoltros, eper
guntada pella doutrjna cristaã
djxe que asabja bem, et em fim

lhe


lhe foraõ declaradas pellosor ujsi
tador ſuas culpas expecjficada[ m ] te
conteudas nestes autos, et lhe decla
rou que es [ he ] a tercejra audjencja
e a deradejra queſelhe hadefazer nesta
mesa, amoestandoa que ella cõfeſse
auerdade antes de ujr cõtra ella a
Justiça com libello, epor ellafoj djtto
que naõ lhe lembra mais do que tem
djtto e que mais lhe lembrara mais
comfeſsara e que pede perdaõ detudo
e mja, e aſignou cõ osorujsitador
aquj Manoelfrco notro do sancto offjo.
nesta ujsitaçaõ o escreuj ~

Mendoça ~ dona cater[ i ] [ n ] a quaress[ m ] [ a ]


12

efejtas as djttas audjencjas eſe
ſsois logo pello sor ujsitador mefoj
mandado fazer estes Autos cõ cluſos
os quais logo fiz ~ Manoelfrco
Notro dosto offjo. neſta ujsitaçaõ
o escreuj ~
Co

ForaõVtos. Estes Autos Em Mesa E Pareçeo a
todos os Votos qVto o modo por q a Re ſe ouue
Emſuas Audiençias Eoutras cõſideraçois qſe ti=
ueraõpague ſo mẽte dez #os pa as deſpe=
sas do sãcto offiçio E cũpra as p[ oe ] nitẽçias Eſpiri
tuais ſeguĩtes q ſe cõfeſſe quatro ueses Em tẽpo de
hũ anõ EReçeba osãctiſſimo ſacramto de cõſelho deſeu cõ=
feſſor E Reze Noue ueses oRozairo de noſſa sora, E
tres os psalmos poenitẽcias.
Epage as cuſtas. Baja 18 –
agosto 1593 –

Heitor furtado demendoça
FernaõCardim ~ Lionardo Arminio <140
Marcos da Costa ~ Fr. Mãcio da + ~ Fr DamiaõCordeiro


aſestio por or dinarjo neste des
pacho atras osor visitador por
comjſsaõ vocal q osor Bpo dom
Anto barrejrros lhe maõ dou por
oſeu capellaõ bastiam roiz pa
aſestir por elle nos despachos
deste dia por estar d[ i ] [ a ] nte de hum
pe e naõ poder ujr a meſa epera
çertezafiz eaſinej este termo aos
dezojto djas domes de agosto
de 93 Manoelfrco notro dosto offjo.
neſtaujsitaçaõ o escreuj ~

Manoelfrco