Edição diplomática
Esta edição foi feita com o e-Dictor. Ao percorrer as palavras e elementos da página, é possível visualizar as intervenções editoriais no texto. Veja os outros níveis de edição, os arquivos de base e a ficha catalográfica do documento pelo menu acima. A visualização completa, com a justaposição do fac-simile, funciona apenas em janelas maiores (acima de 800px).
Esta visualização é um experimento, e a edição está ainda em revisão!

Denúncia contra Francisca Luís
1592


Edição digital feita por
Maria Clara Paixão de Sousa



"Denúncia contra Francisca Luís" (author: Manuel Francisco, ) [ extensão: full, 1502 palavras ]

frca Luis negra

_
_
_
_

13787


_


1

Aos ujnte & cjnquo dj[a]s do mes deJa
nr[o] de mjl e qujnhentos e noventa &
dous annos neſta cjdade do ſal
vador
bahia de todos os ſanctos n[a]s
casas da morada dosor visitador
do Sancto offjcjo hejtor furtado de
mendoça perante elle pareçeo ſen ſer
chamada Jsabel da fonsequa epor
querer denuncjar Couſas tocantes
ao ſancto offjcjo, recebeo Iuramento
dos ſanctos evangelhos em que pos
ſua maõ derejta sob cargo do qual
prometeo djzer verdade
& djxe que
lhe pareçe que he cristaã uelha na
[t]ural
desta bahia filha defrco de moraĩs
& de ſua molher caterjna f[re]ris casada
com guaspar mjz laurado[r] morador
en tasuapina de ydade de dezasete


annos, & denuncjando djxe que auera
ſete, ou ojto annos estando ella hum
dja a tarde a porta de frca luis negra
fora moradora nesta cjdade ujo a djtta
frca luis dar a huã molher que lhe ora naõ
lembra quem era hum recado pera outra
huã molher cujo nome lhe naõ lembra
aqual chamaõ ado veludo dalcunha
molher ſoltra
eorecado dezia anaõ
agrauaſse e que oque ouueſse mjster
que lho mandaſse pedjr quelho darja
& naõ andaſse com outrem, isto amo
do
de çeumes
ede entaõ ategora ſem
pre
ella denuncjante vee ſer fama
pubrjca e geral que a djcta frca luis
dorme carnalmente com adjtta
molher ſoltra chamada ado uelludo
e que tem o djtto ajuntamento ne

2

fando com hum Instromento cuberto
de ueludo, & do costume djxe nada
e prometeo ter segredo epor naõ ſa
ber
asignar eu notro aſeu rogo a
ſignej
osor visitador
Manoel
frco notro dosto offjo neſta ujsitaçaõ
o escreuj [*]

heitor furtado demendo
ça [*]
Manoelfrco


_


3

1a ſeſsaõ
frc[a] luis

Aos quato[r]ze djas do mes de dezembro
de mjl equinhentos e nouenta e dous
annos nesta cjdade do ſaluador
Capitanja da bahia de todos os stos
nas casas da morada dosor ujsi
dosto offjo hejtor furtado de mendoça
perante elle pareçeo ſendo chama
da
frca luis molher preta forra Crj
ola
da Cjdade do porto casada
com domjngos ſoarez homẽ pardo
Remeda[õ] auſente do qual naõ tẽ
novas ſe he ujuo ſe morto vendedejra
moradora nesta cjdade,
e logo foj
amoestada com mujta charjdade
pellosor ujsitador que ella declare
e comfeſse nesta mesa todas ſuas
culpas de todaſua ujda pertencẽ
tes
a[e]lla e que falle a uerdade porq̃
iſso lhe aprouejtara mujto perades


cargo deſua concjencja epera ſeu
despacho, respondeo, que ella estando
nacjdade do porto auera qujnze annos
morou d[a]s port[a]s adentro algũns
dous meses com marja alurez tece
dejramolher
que en casa naõ tinha
marjdo, edespois ſe foj pera outr[a]s
partes e se ueo aesta bahia na qual es
tando
auera treze annos ouujo djzer
aJsabel Anta que despois de ella Ree
vinda ſe dezi[ã] n[o] porto que ella Ree
que peccara com aditta teçedejra no
peccado contra natura
[,] porem que ella
Ree nesta mesa declara que nunca
tal peccado cometeo com aditta
teçedejra,
et comfeſsou que auera
treze annos pouco mais [o]umenos
teue nesta cjdade amjzade com a
djctta Jsabel Anta Molher naõ tem
marjdo moradora nesta cjdade

4

que djzem que ueo doporto degradada
por usar o peccado nefando con outr[a]s
molheres epor ella ſer ſua natural
ella Ree agasalhou nesta cjdade em
ſua casa hum mes pouco mais ou
menos no qual tempo peccou com
ella o djtto peccado nefando alguãs
tres uezes, em djfferentes djas p[o]ndo [ſ]
se huã em cjma da outra e ajuntan
do
ſeus corpos e uaſos
e isto ſemauer
mediante outro nenhum Instromento
exterjor penetrante
et ella Ree deſsi
naõ ſe lembra ſe [t]eue comprjmẽto
natural que as molheres costumaõ
nem ſabe ſe o teue adjcta compliçe porẽ
Ja por este caſo ellas ambas foraõ pre
ſas
nesta cjdade pello Juizo ecclesi
astico
, e ella Ree ſahio condenada que
ſe ſahiſe fora daquj
mas despois a dej
xaraõ
ficar , aquj
e que isto s[o]o he o que

lhe lembra, perguntada que molher
he huã pella qual estando ella aſua
porta mandou djzer a djcta Jsabel Anta
que ella a naõ agrauase e que lhe pe
djſse
quanto ouuese mjster e que ella
lho darja e que naõ andaſse com outrem
e isto a modo de cj[u]mes, respondeo
ella Ree que nunca tal recado man-
dou
nẽ lhe alembra de tal,
pergun
tadaquantos
anno[s] ha que ella man
dou
este recado, respondeo que naõ
mandou tal recado,
perguntada
onde esta ora esta portadora que foj
deste recado, respondeo que tal re
cado
naõ mandou,
foj amoestada
outra uez da parte de deos nosso sor
que ella falle a uerdade
, respond[e]o,
que naõ tem mais quedjzer,
epor naõ
ſaber aſignar eu Notro aſeu rogo aſignej .
osor ujsitador
Manoel frco Notro do sto
offjo neſta ujsitaçaõ o escreuj

Manoel frco
Mendoça H


5

2a ſeſ[ç]aõ

Aos qujnze djas do mes de dezembro
de mjl e qujnhentos e nouenta
e dous annos nesta cjdade do
ſaluador Capitanja da bahia de
todos os ſanctos nas Cas[a]s da
morada dosor ujsitador do sto
offjo hejtor furtado de mendoça
perante elle pareçeo frca luis Ree
contheuda nestes autos a qual
reçebeo Juramento dos stos euange
lhos
en que pos ſua maõ derejta
ſob cargo doqual prometeo djzer
en tudo uerdade
e foj logo tornada
amoestar pello ſor ujsitador
mujta carjdade que ella uſe de bom
conſelho e confeſse toda auerdade
respondeo que tem ditto a uerdade


e naõ tem mais djzer e foj logo
perguntada que resposta lhe
mandou Jsabel [a]nta do recado,
que ella Ree lhe mandou que naõ
conheçeſse ella aoutre[m] ſe naõ a ella
que ella lhe darja o neçeſsarjo,
res
pondeo
, que ella naõ mandou
nuncatal recado,
eperguntada
genelo
per ſua genelosia djxe que he de
gia
ydade de quarenta annos ſegundo
lhepareçe pouco mais ou m[e]nos
natural da cjdade do porto, filha
de djo Luiz captiuo que foj do chantre
doporto chamado [*] Joam de ferro
naõ conheçeo ſua maj temhuã [M]ea
Irmaã mulata filha de ſua m[a]j ne
gra
ede hum homẽ branco, for[a] no
porto,
eperguntada pella doutrj

6

na Cristaã benzeo ſse epersigno
uſe
, et djxe o Padre noſſo, aue marja,
et credo, e naõ djxe mais e djxe que
sabe ler pella cartilha
e que pella
cartilha lee o que ha mjster
epor
naõ saber aſignar eu Notro aſeu
rogo aſignej osor ujsitador
Manoel frco Noto do sto offjo nesta
visitaçaõ o escreuj

Manoel frco
Mendoça H

3a ſeſsaõ

Aos dezaſseis dj[a]s do mes de dezembro
de mjl e qujnhentos e nouenta e dous
annos nesta cjdade dosaluador
capitanja da bahia de todos os stos
nas casas da morada dosor uj
sitador
do sto offjo heitorfurtado


de mendoça perante elle pareçeo ſẽ
do
chamada frca Luis molher preta
Ree conteuda nestes autos a qual
recebeo Juramento dos ſanctos e
vangelhos
ſob cargo do qual prome
teo
djzer [u]erdade efoj lo tornada
amoestar com mujta carjdade
que ella falle uerdade por que lhe
releua aſsi
respondeo que he a uer
dade
he como Ja tem ditto que ſoos tres
ou quatro uezes peccou como ditto
tem com adita Jsabel anta e despois
diſso foraõ amb[a]s preſsas por e[ſ]te
caſo et ella Ree ſahio condenada que
ſe ſahiſe desta cjdade e despois foj
dejxada ficar nella e que nunca maĩs
nẽ antes nẽ despois entodo o tpo
de ſua uida que lhe lembra peccou

7

o tal peccado nefando nẽ com a djcta
compliçe nẽ outra peſsoa alguã
eperguntada quẽ ſaõ as peſsoas que
ſabem que ella fez o ditto peccado com
a djcta Jsabel Anta respondeo que naõ
ſabe dj[s]ſo,
perguntada quantos dj[a]s
[*] ha que foj a deradejra uez ella fez
este peccado com adicta compliçe
ou com outrem, respondeo queha treze
ou quatorze annos lhe aconteçeo o
djtto e que nunca mais fez o tal pecca
do
epor naõ djzer mais foj lhe man
dado
ter ſegredo
e aſim o prometeo
pello Juramento ̃ reçebeo
epor naõ
ſaber aſsignar [a]ſeu rogo aſignej
osor ujsitador
Manoel frco Notro do
sto offjcjo nesta ujsitaçaõ o escreuj

Mendoça H Manoel frco


e fejt[a]s as djttas audjencjas e ſeſso
is
lo[g]o pello ſor visitador me foj
mandado fazer estes autos cõcluſos
os quais logo fiz
Manoel frco notro
do sto offjo neſta ujsitaçaõ o escreuj

Co

foraõ utos eſtes Autos e[m] Mesa e pareçeu atodos
os votos ̃ uta a cõfiſſaõ dare nas ſuas ſeſſoĩs
deter feito o nefando alguãs tres ueſes outra
molher &naõteue caſtigo no Juizo ecctco õde
Ja foi ac[c]uſad[a] por eſte peccado, , ̃ pague dez
[#]os pa as despezas do so offo, e ſelhe imponhaõ
panitẽçias eſpirituais de cõfeſſarſe & jajuar et.
&page aſ cuſtas. Baja, 8 agoſto 1593.

Heitor furtado de mendoça [*]
Fernao Jardim [*] lionardo Arminio [*]
Marcos daCoſta [*] fr Mancis da Cruz [*]
fr Damiaõ Cordeiro [**]